O olhar do pesquisador e as mudanças de suas estratégias de investigação .

A Antropologia desenvolveu diferentes métodos de análise dentro do contexto histórico. Tivemos o enfoque funcionalista-estrutural, com ênfase na construção de modelos e na análise de sistemas sociais em equilíbrio. Esses pesquisadores como Malinowski e Radcliffe-Brown contribuíram para a formulação da teoria da ação que privilegia a observação e reconstrução do comportamento concreto de indivíduos específicos em situações estruturadas. Esse olhar do pesquisador foi gerando algumas vertentes da teoria da ação que começaram a diferenciar os limites das observação dos limites da investigação e essa diferenciação possibilitou a elaboração de instrumentais capazes de integrar a história e dados documentais a análise antropológica de processos sociais.
Um outro olhar de pesquisa é o que, ao invés de enfatizar a observação do comportamento concreto, apoia-se em indagações verbais que têm como objetivo reconstruir visões do mundo. Segundo Bela Feldman, esse dois procedimentos são complementares da pesquisa de campo. Mas essas duas estratégias levam também a dois paradigmas da teoria antropológica. Um que leva a um enfoque cultural (símbolos e significados) e um outro ao enfoque utilitarista (prática).
Quando estamos operacionalizando as pesquisas, essas opções resultam em tratamentos diferentes aos sujeitos da investigação. Eles podem ser tratados como atores sociais ou como informantes. Isso traz distinções radicais, podendo ser éticas (interpretações do pesquisador) ou êmicas ( interpretação do informante). Quando se adota privilegiar os relatos de informantes porém , corre-se o risco de o pesquisador adotar categorias e conceitos sem problematizar e analisar como, quando, por que e em que circunstâncias históricas estas categorias e conceitos emergiram.
Da fase evolucionista e funcionalista-estrutual da antropologia, começou-se a criticar a verdadeira função e poder de contribuição da antropologia. O olhar do pesquisador e suas estratégias nessas correntes teóricas foi duramente contestada por ter uma visão “ocidental” e superior dos povos pesquisados, de não ser capaz de imunizar a visão do pesquisador do objeto pesquisado, de limitar a pesquisa as sociedades exóticas e marginais ao mundo ocidental, partir de pressupostos de sociedades que vivem em equilíbrio sem considerar o contexto histórico, entre outras críticas. Outro questionamento sobre os métodos até então aplicados de pesquisa era o fato de não serem abrangentes o suficiente para explicar os movimentos de sociedades mais complexas. Isso levou à uma dúvida sobre a capacidade da antropologia e seus métodos de pesquisa. Mas foi justamente o surgimento de novas problemáticas e novas questões durante processos de trabalho de campo na década de 50/70 em situações de rápida mudança social como as migrações por exemplo, que implicaram em reformulações e refinamento de antigos pressupostos teóricos e procedimentos de pesquisa, resgatando a identidade da Antropologia. Uma das primeiras consequências foi a proposta de o pesquisador focar no estudo microscópico e detalhado dos interstícios sociais e relações interpessoais. Mas é inegável que apesar das crítcas feitas aos evolucionistas, culturalistas, funcionalistas, estruturalistas, interpretalistas, etc, alguns dos seus métodos de pesquisa foram os grandes influenciadores da “renovação” da antropologia praticada hoje.

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